Como foi descoberto o Número de Deus?

O cubo mágico, ou Cubo de Rubik, sempre foi mais do que apenas um quebra-cabeça divertido. Ele é também um objeto de fascínio matemático e computacional. Uma das questões mais intrigantes que surgiu entre os entusiastas do cubo mágico foi: “Qual é o menor número de movimentos necessários para resolver qualquer configuração do cubo?” Esse número ficou conhecido como o “God’s Number” (Número de Deus), um conceito que evoca a ideia de uma solução perfeita e onisciente.

Mas como o God’s Number foi descoberto? Essa é uma história que combina curiosidade humana, avanços matemáticos e o poder crescente da computação.

A Origem da Questão

Desde a popularização do cubo mágico nos anos 1980, jogadores e matemáticos se perguntaram qual seria o número mínimo de movimentos necessários para resolver qualquer embaralhamento. Embora a maioria das pessoas leve dezenas ou centenas de movimentos para resolver o cubo, é claro que uma solução otimizada deve exigir menos movimentos.

Em 1981, David Singmaster, um dos pioneiros na notáção do cubo mágico, estimou que o God’s Number poderia estar em torno de 52. Outros matemáticos e programadores continuaram a refinar esse limite ao longo dos anos, reduzindo gradualmente o número com base em experimentos e cálculos.

O Avanço com Computadores

Nos anos seguintes, avanços na potência computacional permitiram simulações mais detalhadas. Nos anos 1990, cientistas como Michael Reid e Morwen Thistlethwaite introduziram algoritmos para calcular soluções otimizadas. Em 1995, Reid conseguiu provar que o God’s Number deveria ser, no máximo, 29.

No entanto, os desafios computacionais para confirmar isso eram enormes. O cubo mágico 3x3x3 possui mais de 43 quintilhões de configurações possíveis, o que torna inviável calcular uma a uma com os computadores da época.

A Grande Colaboração

Em 2007, Tomas Rokicki, um programador de renome, começou a aplicar técnicas mais sofisticadas para resolver o problema. Ele usou o conceito de “grupos coset” para reduzir o número de configurações que necessitavam de avaliação. Com ajuda de computadores modernos, Rokicki provou que o Número de Deus era, no máximo, 26.

Mais avanços vieram com a colaboração entre Rokicki, Herbert Kociemba (criador do famoso algoritmo de resolução de dois estágios) e o suporte computacional do Google. Em 2010, essa equipe finalmente chegou à conclusão definitiva: O número de Deus é 20.

A Prova

Para provar que 20 movimentos eram suficientes para resolver qualquer configuração, a equipe usou uma combinação de algoritmos matemáticos e milhões de horas de computação distribuída. Assim, eles dividiram as 43 quintilhões de configurações em grupos menores e analisaram cada um separadamente.

Um dos momentos-chave foi a utilização de “pruning tables” (tabelas de poda), que ajudavam a determinar rapidamente se uma configuração podia ser resolvida em menos de 20 movimentos. Com essa técnica, eles conseguiram verificar que nenhuma configuração exigia mais de 20 movimentos para ser resolvida.

O Impacto da Descoberta

A confirmação do Número de Deus foi um marco importante na história do cubo mágico e da matemática recreativa. Além disso, ela mostrou como problemas aparentemente simples podem levar a soluções extremamente complexas e como a colaboração entre humanos e máquinas pode superar desafios monumentais.

Além disso, a descoberta inspirou novos estudos em áreas como teoria de grupos, algoritmos de busca e computação paralela. O God’s Number também se tornou uma meta simbólica para jogadores e entusiastas, incentivando o aprendizado de soluções cada vez mais eficientes.

Vídeo mais detalhado sobre a história

Conclusão

O caminho para descobrir o Número de Deus foi longo e desafiador, envolvendo décadas de pesquisa, inovações matemáticas e avanços tecnológicos. No entanto, ele é um testemunho do poder da curiosidade humana e da nossa capacidade de resolver problemas complexos.

Seja você um matemático, um jogador de cubo mágico ou apenas um curioso, a história do Número de Deus é um lembrete de que grandes descobertas muitas vezes começam com uma pergunta simples. E quem sabe? Talvez o próximo grande enigma do cubo mágico esteja esperando sua resolução.

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