Desde 2013, anualmente ocorre uma edição do Campeonato Brasileiro de Cubo Mágico, que define os campeões brasileiros em cada uma das categorias oficiais. Damos o título de “Campeão Brasileiro” àquele competidor que venceu a modalidade principal, o 3×3. Essa é geralmente a categoria mais disputada, e gera competições e histórias de tirar o fôlego. No post de hoje vamos contar um pouco da campanha de cada um dos campeões, com os detalhes e contexto de cada história.
2013 – Começa com Israel Machado
O Brasileiro de 2013 aconteceu no SESC Santos, um lugar muito tradicional por sediar grandes competições no passado, sendo palco para diversos recordes. Foi a edição inaugural do torneio nacional, e claro a antecipação pela disputa era enorme. Sem dúvidas o grande favorito para vencer essa edição era Gabriel Dechichi Barbar, para muitos o maior nome do speedcubing brasileiro. Ele dominava os recordes Sulamericanos (SAR) do 3×3 desde 2010, e consistentemente mantinha boas performances em finais.
E esse favoritismo foi se confirmando ainda mais ao longo do torneio. Não somente ganhou as primeiras 3 rodadas, como na última solve da segunda rodada, ele quebrou o SAR de single com o incrível e icônico 7.16 Fullstep. Todos os olhos estavam nele indo para a grande final. Porém, tem um nome que não podia ser ignorado. Israel Machado.
Ao longo do campeonato, ele ficou em segundo lugar em todas as rodadas. Até com uma certa distância dos tempos de Dechichi, mas sempre ali, esperando uma oportunidade. E ela apareceu, justamente na final. Como não há vídeo, não tem como saber exatamente o que aconteceu, mas por conta de um DNF na primeira solve de Gabriel, Israel ganha com um 10.40 de média, se tornando o primeiro Campeão Brasileiro de Cubo Mágico. Dechichi ainda chegou perto, com 10.70, mas ficou apenas com o vice. E fechando o podium tivemos Pedro Santos Guimarães.
2014 – O ano de Dechichi
O ano de 2014 é um pouco atípico pois teve 2 edições do Brasileiro, a etapa de inverno e a de verão. Na WCA apenas a etapa de inverno é contabilizada os títulos. Mas algumas pessoas dizem que o que de fato foi contado foi a “média” de ambas, e outras que cada uma conta como um título diferente. Esse é um debate que pode afetar alguns títulos em outras modalidades. No entanto no 3×3 isso não ocorre, não há discussão sobre o título. Dechichi ganhou todas as rodadas de ambas as edições.
Na etapa de inverno ele foi campeão com uma média de 9.97, quase meio segundo a frente de Pedro Roque. Na edição de verão, com uma média extremamente consistente de 9.31, ele ficou um segundo e meio a frente de Pedro Santos. Foi talvez o período mais dominante de um cubista no Brasil, e dificilmente será igualado.
2015 – Brasileiro no Mundial
A edição de 2015 também foi bastante diferente das outras. Talvez alguns de vocês não saibam, mas o Brasil sediou o Mundial de 2015, em São Paulo. Com isso, acabou que o campeão brasileiro seria definido pelo Brasileiro que melhor se saísse na grande final. Claro, em uma final de mundial o grande foco é o título mundial, que nessa edição ficou com Feliks. Mas havia ali uma outra disputa simultânea pelo título de campeão brasileiro.
Ao longo do evento, com altos e baixos os dois nomes principais foram Pedro Roque e Gabriel Dechichi. Alguns meses antes do Worlds, Roque se tornou o primeiro brasileiro a quebrar a sequência de recordes de Dechichi, com um single de 6.84. Ao longo do campeonato, ele confirma isso ficando a frente na primeira rodada e na final, enquanto Gabriel ganhou apenas a segunda rodada. Indo para a final, 4 brasileiros disputavam o título, incluindo claro, Pedro e Gabriel.
Por apenas 0.11 segundos de diferença (a menor até então), Gabriel Dechichi consegue defender o seu título, decidido no detalhe. Com isso ele se torna tricampeão (ou bicampeão caso não se considere as duas edições de 2014) brasileiro, e confirma a sua dominância. Mas Pedro Roque foi o primeiro a chegar perto de quebrar esse reinado, e isso demonstra que muito provavelmente teríamos uma mudança nos próximos torneios.
2016 – De volta a Santos
Em 2016 novamente tivemos um brasileiro no icônico SESC Santos. O campeonato marcou uma grande mudança de ciclo entre a velha e nova geração, que começou a surgir a partir de 2016-17. Foi também a primeira edição em que não tivemos a presença de Gabriel Dechichi. Os dois favoritos se tornaram então Pedro Roque, Matheus Barbosa, Christian de Sena e Israel Machado. Christian e Matheus ainda não foram mencionados aqui, mas são dois nomes de extrema importância, e que há um certo tempo vinham conseguindo bons resultados.
Christian vence a primeira rodada, e a segunda e terceira foram para a conta de Pedro. A final talvez tenha sido uma das mais incertas, com vários competidores com chance de vitória. Israel querendo o seu bicampeonato, e os outros 3 querendo seu primeiro. Favorecido por um PLL skip na primeira solve, e uma boa OLL na segunda solve, Pedro Roque consegue finalmente o seu título. À essa altura ele já tinha o SAR de single e média, faltava apenas o título para se consagrar, e ele o alcançou. O podium ficou com Matheus Barbosa seguido por Christian.
2017 – Surpresa em Brasília
Pela primeira vez o campeonato foi sediado na capital do país, em Brasília. Em uma edição que teve diversos recordes, de grandes competidores mais antigos, e também que começavam a surgir naquele momento, o 3×3 foi o mais disputado possível! Dois nomes surgiram como os grandes protagonistas do evento: O defensor do título Pedro Roque, e Matheus Barbosa, já citado anteriormente.
Na primeira rodada, Matheus surpreende, conquistando a primeira colocação, na frente de Roque. Na segunda rodada Matheus não vai tão bem, e fica atrás até mesmo de Antonio Gabriel, rodada vencida por Pedro roque que ia como favorito para a final. No entanto nessa segunda rodada ocorreu algo inesperado. Matheus em uma de suas solves alcança o tempo único de 6.73, apenas um centésimo de segundo atrás do recorde nacional que era de Pedro Roque. Um momento histórico, e talvez uma prévia do que seria a final.
No formato de competição onde iam 4 competidores por vez, o título ficou para ser definido na última solve. Nesta, Pedro Roque levou a melhor, mas mesmo assim não foi suficiente para o título. Depois de um começo espetacular de Barbosa, ele garante a consistência necessária nas ultimas duas resoluções, e com ela marca seu nome para a história como um dos campeões nacionais de cubo mágico, com a média de 8.70 segundos. Pedro Roque chegou na segunda colocação, com 8.73, poucos centésimos atrás. Talvez uma revanche do que havia acontecido na semifinal.
2018 – O começo de uma nova era
O Brasileiro de 2018 em BH é um marco histórico importantíssimo. Estavam presentes no torneio os dois campeões anteriores, e duas novas promessas: Caio Sato e Iuri Grangeiro. Nas duas primeiras rodadas Caio confirma o seu favoritismo, vencendo ambas. Inclusive, na segunda rodada quebrando o SAR de média, com um incrível 7.80 segundos. Iuri e Pedro Roque disputaram o segundo lugar nesses rounds.
Na final, assim como no ano anterior uma disputa extremamente acirrada ficou evidente entre Caio e Iuri. Até a quarta resolução, ambos estavam com tempos aproximadamente iguais, e a decisão ficou para a última resolução. Iuri contra todas as expectativas consegue seu melhor tempo nela, e junto com ela o título de Campeão Brasileiro, o único usando o método Roux.
2019 – No Sul e no detalhe
Pela primeira vez na região Sul, o Brasileiro de 2019 foi sediado em Criciúma, no estado de Santa Catarina. Pela data, vários dos grandes nomes da época não puderam ir para o evento, então Caio Sato por exemplo acabou ficando fora da disputa pelo título. Assim a decisão pelo título era entre Iuri Grangeiro, que defendia o seu título, e Vicenzo Cecchini.
Com 4 rodadas, as 3 primeiras foram vencidas por Vicenzo, ora com certa vantagem, ora relativamente próximo dos tempos de Iuri. Chegando na final, o head to head entre ambos muito provavelmente definiria o título. Vicenzo começa mantendo uma boa consistência nos 3 primeiros tempos. Mas Iuri tinha 2 tempos melhores, que poderiam ajudar a garantir uma média melhor. No entanto, na quarta solve Iuri acaba não fazendo o último movimento M, e tendo como resultado um DNF. Se não fosse esse detalhe, o tempo seria suficiente para que ele defendesse o seu título, mas acabou ficando coma segunda colocação, com uma média de 9.38. O título acabou com Vicenzo, com uma média de 8.45.
2020 e 2021 – Brasileiro online
Ambos esses anos não tiveram uma edição oficial do brasileiro, em função da pandemia da COVID-19. Então não existe nenhum campeão referente a esses dois anos na WCA. Mas, para manter a comunidade ativa, nos dois anos tivemos uma edição online do evento, para manter a comunidade ativa. Ambas tiveram centenas de participantes e foram um sucesso. Antonio Gabriel ganhou a edição de 2020, e a de 2021 Vicenzo, mas isso não os transforma em campeões brasileiros, já que se tratava de um evento online.
2022 – Brasileiro no Sula
Em 2022, na cidade de Brasília ocorreu novamente um campeonato importante. Teoricamente não se tratou de um “Brasileiro” propriamente disso, e sim uma edição do Campeonato Sul-Americano. Assim como em 2015, o melhor brasileiro em cada modalidade foi considerado o campeão brasileiro daquele ano. Como muitos devem saber essa edição foi vencida pelo argentino Bautista Bonazzola, com o seu recorde histórico na final. Mas a disputa dos brasileiros não foi menos emocionante.
A grande disputa era pela primeira vez entre Caio Sato e Vicenzo. Vicenzo era o atual campeão, e recentemente havia conquistado o recorde brasileiro de média. E confirma isso vencendo a primeira rodada. Mas Caio mostra que estava vivo na disputa, ganhando a segunda rodada e a semifinal. Na semi, ele inclusive quebra o SAR de média, com 6.59, tirando o NR de Vicenzo, e indo como grande favorito à final.
Vicenzo compete antes, e garante um sub 7 de média. Caio depois de um começo não muito favorável, mantém a disputa viva com um 6.8 na terceira solve, mas acaba não conseguindo manter essa média. Assim, Vicenzo conseguira o seu segundo título, se tornando Bicampeão brasileiro de cubo mágico.
2023 – Bahia!
Pela primeira vez no Nordeste, a edição desse ano foi sediada na linda cidade de Salvador, Bahia. A antecipação pelo evento era enorme, e as expectativas foram seguramente atingidas. No 3×3, a disputa novamente era enorme entre Caio e Vicenzo. Caio vence as 3 primeiras rodadas, e ia para a final com uma enorme chance de vencer.
E ele confirma isso começando com 3 tempos incríveis. Na terceira solve, com o primeiro sub 5 já feito em uma final de nacional no Brasil, ele tinha dois tempos contanto abaixo da média de Vicenzo, e um deles era um sub 6. Mas depois de um 9 na quarta, tudo seria definido pela sua última solve. Que com um corner twist acabou sendo pouco acima do tempo necessário para se tornar campeão, e por apenas 1 décimo de segundo, o título ia novamente para as mãos de Vicenzo.
2024 – RJ
A edição de 2024 no momento em que esse post é publicado ainda não aconteceu. Será na cidade maravilhosa, em novembro, e tudo indica que será um grande evento novamente. Certamente quando chegar mais perto teremos mais postagens aqui no blog sobre isso!
Mas e aí, gostaram dessas histórias? Os Brasileiros são sempre experiências incríveis, que geram grandes histórias. Caso queira ir na edição deste ano, clique aqui para poder se inscrever! Quem sabe você não se torna um dos próximos com o título de campeão brasileiro, se não no 3×3 em alguma outra modalidade!